O que é medula óssea?
A medula óssea é o tecido que existe dentro dos ossos e que constitui a nossa “ fábrica do sangue”. É formada por vasos sanguíneos, tecido adiposo, e diversos tipos de células: as células precursoras dos diferentes glóbulos do sangue, também chamadas células estaminais ou pluripotenciais, os fibroblastos e plasmocitos.
Na criança existe medula em quase todos os ossos, mas ao longo dos anos vai-se alterando esta distribuição; no adulto existe, quase exclusivamente, nos ossos da bacia, costelas e no esterno. Fig.1
Que significa hematopoiese?
Heme provém da palavra grega “haime” que significa “sangue”. Hematopoiese consiste no processo de divisão, diferenciação e maturação celular, desde a célula mais primitiva – célula estaminal – até aos diferentes tipos de células sanguíneas. Estes processos estão dependentes de diferentes genes existentes nas células.
A célula estaminal, ou célula pluripotencial, tem a capacidade de se dividir, e assim de se auto-renovar, bem como de se diferenciar nos vários tipos de células. As células do sangue têm um tempo de vida limitado e necessitam de se renovar de forma continuada e constante; em algumas situações pode haver necessidade de aumentar a produção, como por exemplo quando há uma perda de sangue ou, no caso de uma infecção, em que são necessários mais globulos brancos. A produção das células é controlada pelos diferentes factores de crescimento.
Factores de crescimento
São substãncias químicas, ou citocinas, existentes no organismo e que controlam a produção das células sanguíneas:
- Eritropoietina, hormona produzida no rim, controla a produção dos globulos vermelhos.
- Factor de crescimento dos granulócitos – G-CSF, granulocyte-colony-stimulating-factor – regula a produção de glóbulos brancos e é produzido por algumas células envolvidas na defesa contra infecções.
- Trombopoietina – uma glicoproteina produzida pelo fígado e rim e que estimula a produção de plaquetas.
Estes factores são produzidos em quantidade variável de acordo com as necessidades do organismo. Actualmente é possivel produzir estes factores no laboratório, por técnicas de engenharia recombinante, o que constitui um enorme avanço no tratamento de determinadas situações; por exemplo, a eritropoietina recombinante é utilizada em algumas anemias e o G-CSF pode ser administrado quando há diminuição dos globulos brancos, devida à quimioterapia ou a outras situações.
Como é constituido o sangue?
É constituido por uma parte líquida, o plasma, que contem água, proteinas, glicose, lípidos e outros elementos necessários ao metabolismo, como as vitaminas, sais minerais, hormonas e citocinas. As células sanguíneas são os outros constituintes do sangue e são produzidas pela medula óssea de acordo com as necessidades do organismo.
Quais são as células do sangue?
Globulos vermelhos
Os globulos vermelhos, ou eritrócitos, (Fig.3) contêm hemoglobina. A hemoglobina é uma proteina, ligada ao ferro, que transporta o oxigénio desde a circulação pulmonar até aos vários tecidos. O tempo de vida dos eritrocitos é de cerca de 120 dias.
O valor normal de eritrócitos é entre 3,5 e 5 x 1012/ L (3.500.000 e 5.000.000/mm3 ).
O valor normal de hemoglobina (Hb) é entre 13g/dl - 17g/dl nos homens e 12g/dl-14g/dl nas mulheres. A percentagem de globulos vermelhos em relação ao plasma é o hematócrito (Ht).
A diminuição da hemoglobina designa-se por anemia e o seu aumento por policitemia.
Globulos brancos
Os globulos brancos, ou leucocitos, são as células que nos defendem das infecções.
O valor normal é entre 5 e 10 x 109/L ( 5.000 -10.000 /mm3)
A sua diminuição designa-se “leucopenia” e o aumento por “leucocitose”
Existem diversos tipos de leucócitos: granulócitos e linfócitos
Granulócitos – assim designados porque têm pequenos granulos no citoplasma – têm a capacidade de se dirigir para o local de infecção e destruirem micro-organismos como bactérias, fungos e parasitas. São de diversos tipos:
Plaquetas
As plaquetas não são células, mas sim fragmentos de células que existem na medula, os megacariocitos, e que passam para o sangue periférico; o seu tempo de vida é de cerca de 8 -10 dias.
Quando há uma ferida ou um traumatismo, as plaquetas acumulam-se nesse local, favorecendo por um lado a coagulação e, por outro, a reparação do vaso sanguíneo.
Os valores normais estão entre 150 e 450x109/L (150.000-450.000/mm3)
A diminuição de plaquetas designa-se por “ trombocitopenia” e o aumento por “ trombocitose”.
Que alterações da hematopoise podem existir?
Podem existir alterações normais, ou fisiológicas:
- Nas hemorragias há aumento da produção de eritrócitos, como mecanismo de compensação da perda de sangue, e também de megacariocitos, para que mais plaquetas controlem a hemorragia.
- Nas infecções há aumento dos globulos brancos, para eliminar os micro-organismos.
Mas podem existir alterações patológicas:
- Diminuição das células progenitoras da medula, ou aplasia medular, por processo imunológico ou tóxico: efeitos da quimioterapia, de radiações ou de alguns medicamentos.
- Infiltração da medula por células tumorais – cancro da mama, linfoma, e outros.
- Alteração neoplásica - maligna - das próprias células da medula, como nas leucemias, mieloma e nas sindromes mielodisplásicas.
Como se avalia a medula óssea?
- Por mielograma, que consiste na aspiração de pequena quantidade de medula por punção de osso da bacia ou do esterno.
- Por biópsia óssea – em que é retirado pequeno fragmento de osso da bacia e que permite ver maior extensão de medula óssea
Estes exames são executados com anestesia local e o processo é apenas ligeiramente desconfortável. Nas crianças é feita uma ligeira sedação, para que o procedimento seja menos traumático.
Qual o aspecto da medula ao microscópio?
No esfregaço de um grumo de medula óssea observado ao microscópio, como nesta imagem, podem-se observar os vários tipos de células mais maduras, assim como todos os seus precursores.