Helena Carvalho Fernandes
Testemunho de doente
01-09-2017
Após umas análises ao sangue, para acompanhamento da gravidez, foram detetadas alterações no hemograma. Repeti as análises e, assim que o médico teve a confirmação das suas suspeitas, veio ter comigo e com o meu marido e deu-nos a notícia... tinha leucemia.
Senti medo e toda a felicidade que sentia desapareceu. Fui rapidamente encaminhada pelo médico para o Hospital dos Capuchos. A viagem até lá foi uma tortura… Como era possível estar doente e não ter sintomas? Apenas um ligeiro cansaço a subir escadas. Muitas vezes pensei que andaria a trabalhar demais. A gravidez ajudou a salvar a minha vida. De certeza que continuaria a desculpar o cansaço ligeiro que sentia. Assim que entrei no serviço de hematologia tinha duas médicas e dois enfermeiros à minha espera ao fundo corredor. Uma receção muito calorosa e emotiva. Seguiram-se mais exames e no meio do turbilhão de sentimentos, surgiram boas notícias. O diagnóstico estava concluído - leucemia mieloide aguda promielocítica. Este tipo de leucemia é o que tem melhor prognóstico hoje em dia. Tem 98% de cura e não necessitava de transplante de medula óssea. O medo que sentia naquele momento era aterrador. Seria possível a vida terminar ali? Não, ainda tinha uma vida para viver, bastou olhar para o meu marido para perceber isso e rapidamente ganhei força para começar uma batalha. Seguiu-se o internamento, exames e tratamentos de quimioterapia, que facilmente foram enfrentados com ajuda da excelente equipa de médicos, enfermeiros e auxiliares que sempre me apoiaram e me trataram tão bem. O tempo foi passando e com o apoio da minha família consegui estar sempre bem de bom humor, apesar da situação em que me encontrava. O cabelo começou a cair passadas 3 semanas do tratamento de quimioterapia, quando começava a acreditar que o cabelo não cairia. Esta situação era incomodativa e decidi rapar o cabelo rapidamente. Senti-me muito bem quando me vi ao espelho. Novo look! No primeiro tratamento de quimioterapia atingi a remissão completa! Ao fim de 5 semanas de internamento pude, finalmente, regressar a casa. Seguiram-se mais tratamentos de quimioterapia em ambulatório e consequentes infeções que levaram a mais dois internamentos. Restavam-me dois anos de tratamento de manutenção.
Em junho de 2012 terminei o tratamento de manutenção e a partir daí faço uma vida normal, sem qualquer medicação. Faço exames de 6 em 6 meses e ainda este ano realizarei o sonho que foi adiado em 2010. 12 de Fevereiro de 2010, o pior da minha vida..mas também ao fim de quatro anos, a alegria de continuar a ultrapassar as rasteiras da vida. Estou bem! Tudo o que aconteceu não passará de um momento vivido que irei partilhar, para que outras pessoas saibam que, apesar de nos ser diagnosticada esta doença, isso não significa que tudo acaba. Tudo pode correr bem e o meu caso tem sido um exemplo disso!
Com esta minha experiência deixei de dar importância a aspetos insignificantes e aproveito ao máximo cada dia. Encaro a vida de uma outra forma, dou mais valor a tudo aquilo que me rodeia e que realmente importa! Os obstáculos da vida tornam-nos pessoas mais fortes, é importante ter uma atitude positiva e nunca perder a fé e a esperança. Aproveito ao máximo esta nova etapa da minha vida! Façam o mesmo…
Registem-se como dadores de medula óssea. Um pequeno gesto pode salvar a vida de alguém.
Helena Fernandes
Nós respondemos.